O poder da narrativa, de contar estórias na ACR

1- Introdução:

O objetivo do processo de investigação é avaliar o evento ocorrido, o mais próximo da realidade, na busca de uma solução eficaz, que evite a recorrência do mesmo.

A reconstrução do evento ocorrido, deriva do levantamento de diversas fontes de causas, como 1- pessoas, 2- procedimentos e documentações, 3- hardwares, softwares e sistemas e 4- meio ambiente.

As informações levantadas, podem se originar a partir de duas características;

• Objetivas: documentação técnica, registros fotográficos, procedimentos, medições, etc.
• Subjetivas: na minha opinião, em avaliações similares que participei, o funcionário estava com medo, etc.

O levantamento das causas, pode ser comparado, a mistura de centenas de peças de um quebra-cabeça.

O processo da narrativa, efetuado por pessoas, pelos participantes, exerce um poder de influencia em definir e priorizar as causas mais ou menos importantes, principais ou secundárias, usar ou descartar, baseado em critérios essencialmente subjetivos.

O processo narrativo, depende da interação de dois fluxos de conteúdo:

·     Os participantes apresentam as diferentes narrativas.

·     A equipe interpreta o conteúdo da narrativa, aplica técnica de investigação, e edita relatório final.

2- Estrutura narrativa:

A cultura narrativa ocidental, conta a estória seguindo uma sequência cronológica presente-passado e uma construção gramatical, com o uso de sujeito-verbo-substantivo, conjunções, adjetivo e advérbio, sendo construído em uma lógica linear considerando três atos como começo-meio-fim.

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Na investigação, a estória aborda um problema (funcionário quebrou braço esquerdo), com vários personagens envolvidos (funcionário, ajudante, supervisor), em um local – armazém, e tempo - as 15 horas, e várias causas existentes – escada obstruída, funcionário com pressa e outros, sendo desejado um final feliz, como a solução do problema.

Mas o grande desafio é como interagir os componentes objetivos e subjetivos neste processo.

3- Processo narrativo:

·     Funcionário acidentado – sou experiente no setor, estava com pressa por solicitação do ajudante, subi a escada, não vi obstrução e cai. (1)

·     Ajudante – aquela tarefa era para eu realizar, estava sobrecarregado e pedi para ele (funcionário) fazer por mim, infelizmente deu azar, não recebemos o aviso de obstrução parcial da escada. (2)

·     Supervisor – tratava-se de uma tarefa simples, o funcionário (acidentado) não precisava ter feito, o procedimento define como tarefa do ajudante, não fiquei sabendo. (3)

4- Elaboração da estória tradicional:

Funcionário experiente no setor (1), veio a desenvolver uma tarefa pertinente ao ajudante (2-3) que estava sobrecarregado (2), alegou estar com pressa, (1) vindo a subir a escada (1), não tendo visto a obstrução (1) sofrendo queda e fraturando o braço esquerdo.

O ajudante estava sobrecarregado (2) em outra atividade e pediu ao funcionário, alegou ter sido azar e que não sabiam que a escada estava obstruída (2).

Tratava-se de uma tarefa simples (3), definida pelo procedimento (3) para ser feita pelo ajudante e o supervisor informou que não sabia de nada sobre os fatos ocorridos (3).

Um evento (ou efeito, ou problema) vem a ser consequência da relação entre causas, principio básico do pensamento causal.

Nesta perspectiva, a narrativa deve ser iniciada pelo problema, muitas vezes o evento mais próximo do presente.

Avaliando nosso exemplo, a relação causal, pode ser facilitada, pela elaboração da estória tradicional, porém sendo escrita do presente para o passado.

5- Elaboração da estória causal:

“Funcionário com braço esquerdo fraturado (problema), causado pela queda na escada, causado por desviar ao subir a escada obstruída, causado por não ter visto a obstrução, causado por estar com pressa, causado por ter desenvolvido atividade do ajudante, (passado)”.

Este modelo de estória causal, pode ser a base para a elaboração dos 5 porquês -

 Algumas diferenças gramaticais na narrativa tradicional e causal –

A partir dos 5 porquês (relação causal linear), pode ser desenvolvido um diagrama baseado na relação entre causa e efeito (efeito causado a partir da combinação de duas causas), aplicando-se o conceito de causa transitória e não transitória.

6- Conclusão:

A narrativa de contar estórias (passado-presente) vem a se basear em um processo narrativo tradicional, com informações objetivas (causas validadas por evidências) e conteúdo subjetivo, influenciado pela opinião e interesse dos participantes.

O ponto chave é trabalhar somente com informações objetivas e transforma as informações subjetivas em objetivas através da validação com evidências.

O método de ACR, trabalha com uma narrativa causal (presente-passado), podendo se iniciar através de um modelo simplificado linear (5 porquês) e evoluir para o diagrama de causa e efeito (relações causais).

A narrativa causal, deve ser construída a partir de causas (transitórias e não transitórias), sendo validadas a partir de evidências, levando-se em conta aspectos gramaticais, não sendo indicado causas com uso de – adjetivo, adverbio ou conjunções. 

A narrativa causal, vem a ser fundamental para um entendimento de como ocorrem as relações causais, fato necessário para elaborar diagramas de causa e efeito consistentes, para servir como plataforma visual para a busca de soluções eficazes.